A seguinte explicação do Pastor Manuel Alexandre Júnior foi dada a uma pergunta sobre o que significa "Presciência" em I Pedro 1:1-2
Texto: "Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos [ἐκλεκτοῖς] que residem como estrangeiros na diáspora... [eleitos] segundo a presciência (πρόγνωσιν) de Deus Pai..." (1Pe. 1:1-2).
Espantoso começar a sua epístola com uma referência à
doutrina da eleição! Exactamente o que Paulo faz nas cartas aos Efésios 1:1-5,
e a Tito 1:1-2.
Pedro, como Paulo afirmam esta verdade da eleição soberana, que
é indiscutível no seio dos apóstolos e da igreja primitiva. E Pedro desvenda
aqui as implicações teológicas e práticas da eleição com seis afirmações bem
claras: a natureza da eleição ('que foram eleitos/escolhidos'); a fonte da
eleição ('segundo a presciência de Deus Pai'); o domínio da eleição ('em
santificação do Espírito'/'pela obra santificadora do Espírito'); a razão ou os
efeitos da eleição (''para obedecer a Jesus Cristo'); a segurança da eleição
('e a aspersão com o seu sangue'[ressonâncias do VT, também em Hebreus
9:19-20-22; 12:24]); os efeitos da eleição ('graça e paz vos sejam
multiplicadas/concedidas na medida plena').
Comentemos a segunda.
1. A
presciência significa meramente previsão, conhecimento sobrenatural do futuro.
Mas, como justamente observa John MacArthur, há pelo menos três razões para que
tal interpretação não tenha base bíblica: (1) torna o homem soberano na
salvação e não Deus [leiam-se Jo. 15:16; Rom. 9:11-13, 16]; (2) dá ao homem
crédito indevido pela sua salvação, permitindo-lhe partilhar a glória que
apenas pertence a Deus [ver 1Cor. 1:29, 31; Ef. 2:8-9]; (3) parte do
pressuposto que o homem caído tem o poder de buscar a Deus por si mesmo [ler
Rom. 3:11; Jo. 4:10]. Ora tal definição de presciência é incompatível com a soberania
absoluta de Deus sobre todas as coisas (ver Isa. 46:9-10. Seria a mesma coisa
que pensar assim: Deus olhou para o futuro, viu que Jesus decidiu morrer, e
decidiu (aproveitou a deixa) fazer dele o Salvador.
2. O termo grego para presciência, πρόγνωσις, não significa
simplesmente conhecimento do futuro. Refere-se ao Deus eterno, predeterminado,
amoroso, redentor soberano. O termo significa que Deus tomou a decisão
determinada e determinante de escolher alguns para a realização do seu plano
eterno.
Significa também que Deus tomou essa decisão por decreto,
antes de o tempo começar. O conceito 'tempo' é aqui muito importante. Deus é
eterno, transcende a realidade 'tempo'. Deus 'É' (ser de essência e não de
existência) eterno.
O tempo é uma condição humana e é relativo; na Terra,
depende do movimento de rotação para os dias, do movimento de translação para
os anos, da própria dimensão da terra e sua distância em relação ao Sol. O que
significa que a noção de tempo pode ser diferente no espaço com base numa série
infinda de variáveis relativas a planetas, estrelas, galáxias, universos,
volumes e distâncias. Mas Deus é eterno, transcende todas essas estruturas de
relatividade. Ele próprio é Senhor do tempo: está para além do tempo (é
transcendente e não imanente), ao lado e acima do tempo, é soberano sobre o
próprio tempo.
Por conseguinte, Deus não 'prevê', Deus 'vê'. Para Ele não
há passado, presente ou futuro, mas um eterno presente. Ele não foi, é, e será.
Por isso a Escritura diz: "Deus é o mesmo ontem, hoje e eternamente";
e não diz: Deus foi ontem, é hoje, e será eternamente o mesmo. Ele é o grande
"EU SOU". De sorte que, até mesmo dizer-se 'predestinou' é usar um
antropomorfismo, uma maneira humana de nos referirmos ao divino. O que é para
nós 'predestinou', mergulhados na nossa condição de tempo, é para Deus
simplesmente 'destinou' ser assim, determinou na eternidade ser assim, isto é,
fora do tempo, soberanamente.
Autoria: Pastor Manuel Alexandre Júnior
(Publicado com autorização do Autor)
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