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domingo, 23 de setembro de 2018

Temendo a Deus


Temos estado a olhar para a 1ª carta de Pedro.
Vamos para o sexto sermão e ainda só estamos no primeiro capítulo (ainda não é hoje que terminamos).
Nos primeiros 12 versículos, reparámos naquilo que Deus fez por nós: escolheu-nos, salvou-nos e guardou-nos.
No v13, vimos o primeiro mandamento: “alegrai-vos na Esperança”.
A partir do v15 vemos o segundo mandamento: “sejam santos porque Deus é Santo”.
Hoje vamos falar sobre “Temor a Deus”.
I Pedro 1:17-21
Há uns tempos, tivemos a oportunidade de ficar com a Júlia.
Brinquei muito com ela*. Passado meia hora virou-se para a Filipa, muito preocupada, e disse: “Filipa, o Jónatas não é assim na Igreja”.
Isto deixou-me a pensar. Não na possibilidade de deixar de brincar com a Júlia, mas na análise da minha vida, se de facto sou diferente na Igreja do que sou no meu lar.
Se houver diferença, qual é o aspecto que está a faltar?
Será que há vivência dupla?
O que está a faltar para sermos a mesma pessoa onde quer que estejamos?
17Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um, portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação,
Antes, no V14, Pedro usou o argumento da filiação para justificar o que ia dizer.
Agora, no V17, Pedro usa o argumento da intimidade.
Reparemos: “se invocais a Deus como Pai”.
A ideia desta expressão é mostrar que se de facto existe uma relação com Deus, então alguma coisa tem de acontecer nas nossas vidas.
É bom e extremamente saudável avaliarmos a nossa relação com Deus.
Pensemos se estamos a crescer: em amor para com Deus, na nossa santidade e se estamos a fazer discípulos*.
Se houver pouco crescimento, provavelmente haverá pouca análise ao nosso coração.
Na verdade, quem não analisa a sua vida é porque se acha perfeito. E a Bíblia é clara em Rom. 3:10: “Não há ninguém perfeito”.
Temos de pensar na nossa vida tendo como base a nossa filiação em Deus.
Nós somos filhos de Deus: esta é a nossa identidade.
Tal como vimos a semana passada, se andarmos a tentar obter aprovação do mundo, então queremos provar ao mundo que merecemos a sua aceitação.
Por outro lado, se soubermos que fomos aprovados por Deus, então saberemos que não teremos de provar nada.
O nosso desejo deve ser, sim, um relacionamento de intimidade com Deus.
É bom sabermos que Deus, tal como vemos neste versículo, não faz acepção de pessoas no seu julgamento.
Nota importante: Este não é um julgamento para a salvação (fomos salvos não pelas nossas obras, mas pelas obras de Cristo). Há pessoas que colocam em causa a soberania de Deus, na escolha de quem é salvo, dizendo que “Deus não faz acepção de pessoas”. Isso seria acepção de pessoas se Deus escolhesse com base nos méritos de alguém e desprezasse os outros. Deus salva quem Ele quer, não há um justo sequer, e não nos compete tentar perceber mais do que isso (Romanos 9 – EBD). 
Sendo assim, este julgamento, a que o texto se refere, é ao julgamento das obras que fazemos diariamente.
Romanos 14:12 “De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus”;
2 Coríntios 5:10 “Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal”.
Sendo assim, nós temos intimidade com Deus o qual julga com a mesma equidade/imparcialidade quer sejam ricos ou pobres (Tiago 2:1-9); judeus ou gentios (Rom. 2:11); escravos ou judeus (Ef. 6:9).
Saber disto é importante porque há uma grande diferença entre o julgamento de Deus e aquele que muitas vezes fazemos:
1 Samuel 16:7 “Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração”.
É um descanso enorme saber que Deus NÃO ME VÊ como eu me vejo e NEM ME VÊ como o mundo me vê!
Deus é justo nos Seus julgamentos.
Agora, se nós temos um relacionamento íntimo com Deus e se Deus é justo no julgamento das nossas obras, então teremos que “andar em temor durante o tempo da nossa peregrinação”.
Isto é, enquanto estivermos nesta terra devemos ter temor/reverência a Deus em tudo o que fizermos.
O temor a Deus vai para além da aparência, conforme vimos.
Quem se ilude com as aparências são os Homens.
A reverência ou o temor a Deus significa pelo menos 2 coisas:
1º Glorificar a Deus em tudo o que fazemos: ao olharem para nós possam perceber que somos de Deus;
2º Ter coerência entre o que se vive e o que se fala para que não notem diferença nas nossas vidas como a Júlia notou.
O facto de Deus ser o nosso Pai não deve ser encarado como tendo uma carta branca para fazermos o que quisermos* porque quem ama a Deus ama também a Sua vontade… os Seus mandamentos!
Deus ser o nosso Pai traz responsabilidade aos nossos actos.
É um perigo quando perdemos o temor a Deus!
Nos aconselhamentos que damos notamos precisamente isso: quando alguém perde o temor a Deus, as coisas ficam muito difíceis para não dizer praticamente impossíveis.
Devemos saber que a salvação não deve trazer desleixo à nossa vivência. Deve trazer, sim, temor a Deus.
Tenham a certeza que se nos desleixarmos, Deus fará de tudo para voltarmos ao caminho.
Deus não vai permitir que os Seus filhos vivam no pecado como se nada fosse.
Nem irá fazer a regra dos 3 segundos* porque o pecado (qualquer que seja) é uma enorme ofensa contra Ele.
O problema é que hoje em dia estão a fazer de Deus algo que Ele não é.
Estão a construir um deus feito à imagem e semelhança das pessoas.
Como? Quando dizem coisas como:
- “Deus é tão querido, tão amoroso que Ele só nos quer ver felizes”.
- “Ele só quer o nosso bem! As Igrejas é que são aborrecidas quando falam em pecado”!
Quando estes pensamentos surgem, estamos a arranjar desculpas para o pecado ao afirmarmos coisas como: “Deus é amor. Ele quer que eu seja feliz”.
Temos que reconhecer que estes pensamentos surgem também na vida das pessoas porque a mensagem da Cruz está a desvanecer-se nos púlpitos das Igrejas quando ela é o poder de Deus – salvação!
Reparem: ninguém que se diz cristão e que vive em pecado dirá “Deus é justo e Santo”.
Não nos esqueçamos: Temer a Deus envolve respeitar tudo o que Deus fez por nós em Cristo Jesus ao viver como Jesus viveu!
Agora, quando o apóstolo Pedro disse que deviam temer a Deus enquanto fossem peregrinos, a mensagem estava a ser claramente compreendida pelos leitores desta carta até porque os judeus, no império romano, eram vistos como estrangeiros e a sua integração na sociedade não era bem vista pelos gregos.  
O que Pedro estava a mostrar-lhes e a mostrar-nos também é que nós não somos daqui.
Porquê? Porque os cristãos têm a sua cidadania no céu com o título de residência temporária na terra!
Nós fomos comprados por um alto preço. Deus só nos pede que tememos de todo o nosso coração!
Qual a razão?
18-21sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós que, por meio dele, tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus.
Vemos aqui uma comparação entre o que é perecível e o que é eterno: o que tem valor com o que tem um valor incalculável.
O ouro e a prata eram os metais mais valiosos na altura.
O que Pedro está a dizer aqui é claro: não são os bens aqui na terra que te dão uma segurança eterna. Apesar de valiosos não podem comprar o que o ser humano mais precisa!
E este ponto é fundamental para combatermos a heresia do chamado “Evangelho social”: o maior problema do ser humano não é a fome, a sede ou a nudez. O maior problema do ser humano é o seu pecado e a consequente morte espiritual. 
Obras sem Evangelho, são obras úteis, mas não dão glória a Deus* e não salvam ninguém.
Somos chamados a falar de Jesus a todo o ser humano para que haja a salvação sendo que ao mesmo tempo devemos ajudar as pessoas nas suas necessidades físicas.
Diz-nos o versículo que a salvação garante o resgaste da futilidade da vida que tinham: 1 - judeus viviam uma vida espiritual vazia (Marcos 7:5-13); 2 - antepassados pagãos dos gentios.
A palavra “redenção” ou “resgate” era usada para a libertação de um escravo através do pagamento de um preço estipulado.
Todo o pagamento de resgate trazia a ideia de um dono.
Desde o AT, houve sempre um preço para a libertação do povo.
No caso de Israel, foi preciso o derramamento de sangue de cordeiro sobre os umbrais das portas para salvar o povo da morte.
Esse sacrifício apontava para um sacrifício maior: aquele que serviria para aplacar a Ira de Deus.
Um sacrifício que fosse suficiente para salvar todos aqueles que se arrependessem dos seus pecados.
Para que esse sacrifício fosse aceite por Deus, era necessário que uma pessoa cumprisse a Lei de Deus na Sua plenitude (daí a necessidade de ser homem).
O sangue dos cordeiros apontava a Jesus.
Daí vermos no v19: “mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo”.
Em João 1:29 também podemos ler “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”.
Era preciso sangue para haver redenção de uma pessoa perfeita (Hebreus 9) e única pessoa perfeita foi o Senhor Jesus.
Não tenhamos dúvidas que o único sacrifício que aplacou a Ira de Deus, de todas as pessoas que se arrependerem dos seus pecados, foi o de Jesus.
Só houve justiça perfeita porque houve perfeição na vida de Jesus o que mostra a nossa imperfeição completa.
E se pensarmos mais um pouco e ligarmos ao que foi dito a semana passada, a santificação mostra-nos que nós não somos perfeitos.
Aliás, a santificação é uma declaração da imperfeição do cristão*.
Por isso, não vale a pena tentar impressionar a vida dos outros: todos nós andamos na luta.
Já uma vez o disse e repito até porque acho que os púlpitos estão cheios de homens que tentam ganhar reputação perante uma audiência* em vez de apontarem todas as coisas a Cristo!
Estou cansado de gerir a minha imagem, as expectativas dos outros e o ter de justificar todas as coisas. Assumo publicamente que sou fraco.
Quero viver um cristianismo simplesmente autêntico onde me é permitido dizer que vivo na luta e que não sou perfeito!
Desculpem, mas eu não tenho de provar nada a ninguém porque o mais importante, para mim, já foi conquistado por Cristo lá na Cruz.
Quem disser que não vive na luta ou está a mentir ou ainda não começou ou estagnou no seu processo de santificação.
Não vale a pensa tentarmos impressionar as pessoas com a nossa vivência.
Deus deu a Igreja para os fracos/doentes e não para os sãos!
Deus revela-se nas nossas fraquezas!
O poder de Deus revela-se nos nossos momentos fracos*.
Nas nossas vidas não devemos ter receio de mostrar publicamente os salmos.
Isto é, se hoje David falasse da sua vida como falou ao escrever os Salmos, diríamos:
- estava maluco;
- era alguém muito fraco;
- devia resguardar-se.
O livro de Salmos é das colectâneas mais honestas da vivência do cristão!
É muita fraqueza humana lá contida e muita força do nosso Deus.
Não é em vão que quando as pessoas estão mais em baixo procuram o livro de Salmos.
Temos de viver mais Salmos na nossa vida!
Temos de dar margem às pessoas na Igreja para que possam confessar os seus pecados, as suas fraquezas e pedirem ajuda.
Temos de nos alegrar* quando alguém diz que Deus salvou, por exemplo, o seu casamento.
Temos de nos alegrar e não julgar quando alguém diz que Deus concedeu o perdão perante algo que fizeram.
Temos de aprender a ser como o pai do filho pródigo que viu o seu filho a sair, a gastar tudo, a fazer as coisas mais terríveis e mesmo assim recebeu-o de braços abertos sem perguntas.
Falta compaixão nas nossas palavras porque elevámos a aparência acima de todas as coisas e esquecemo-nos do temor a Deus!
O nosso coração precisa de ser transformado e só há transformação de vidas quando o coração for transformado, não por mensagens motivacionais, mas sim transformado pelo Evangelho.
Se temos intimidade com Deus, devemos ter temor/reverência para com Ele.
Não nos devemos esquecer que a salvação nos foi dada gratuitamente. Contudo, teve um grande preço para Deus: a vida do Seu único filho.
Jesus não foi uma solução de recurso para um plano que correu mal.
Jesus foi escolhido/eleito – é muito mais do que saber de antemão – por Deus antes da criação de todas as coisas.
Pensar nestas verdades do Evangelho transformará a nossa vivência em várias áreas, como por exemplo no desejo de proclamar esta mensagem a toda a criatura.
Se queremos ter temor a Deus, aproveitemos também as oportunidades para testemunhar porque uma das melhores formas de mostrar temor a Deus passa por espalhar o Seu nome a toda a criatura.

Pensemos:
Depois de tudo o que Cristo fez por nós:
- Temos tido temor a Deus nos nossos momentos pessoais?
- Temos tido temor a Deus nas nossas famílias?
- Temos tido temor a Deus nas nossas Igrejas?
- Temos tido temor a Deus no nosso testemunho com as pessoas não cristãs?


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