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quinta-feira, 22 de julho de 2021

A importância da presença na adolescência

           Durante um ano inteiro fui guarda redes suplente do Tondela (iniciados). É aquele lugar que não interessa a ninguém e que é ocupado pelo jogador mais fraco. 

No entanto, sempre tive o meu pai presente a ver os jogos todos mesmo sabendo que nunca ia jogar (entrei apenas uma vez para o meio-campo).

Isso foi muito importante para mim, numa altura em que era rejeitado por muitos colegas na escola, pois tinha alguém interessado nas minhas coisas mesmo sendo para ver-me no banco dos suplentes. A presença tem um valor inestimável.

Além disso, o meu pai foi um exemplo na sua relação com Deus e no cuidado com as pessoas. Isto ajudou-me imenso quando comecei a pastorear sozinho com 24 anos. 

Embora as suas palavras não surtissem efeito na minha adolescência, a sua presença e o seu exemplo foram meios pelos quais Deus usou para eu conseguir andar num caminho muito tortuoso que percorri até chegar aqui.

Sou agradecido pela vida do meu pai e oro para ser essa referência na vida dos meus filhos!

quarta-feira, 30 de junho de 2021

Aprendendo a lidar com doença rara e dores!

 Receber uma notícia sobre a nossa saúde não é fácil quando a mesma pode ter consequências hereditárias.

Viver diariamente lutando com as nossas fraquezas pode ser particularmente duro principalmente quando se lida com “doenças silenciosas”.

Uns momentos podemos estar bem e no dia a seguir passamos por uma fase complicada.

Como explicar a quem nunca viveu? Não sei. Eu não entendi me muitos momentos. Fui injusto.

Por outro lado, o que nos deve animar não é que há casos mais difíceis que os nossos. O que nos deve fazer alegrar é que Deus vai fortalecendo diariamente para cumprirmos o propósito para o qual fomos chamados ainda que possa ser doloroso.

Estou a aprender a viver com um “espinho na carne” o qual me tem atormentado. No entanto, quero viver a realidade que a “Graça de Deus me basta”. 

Tenho a teologia toda embora por vezes seja difícil chegar ao coração. 

É uma bênção saber que tenho muitas pessoas a orarem por mim e peço, principalmente, para que Deus me use para falar da Esperança que há em Cristo a todos os que sofrem.

 

𝐓𝐞𝐱𝐭𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐦𝐞 𝐭𝐞𝐦 𝐝𝐚𝐝𝐨 𝐟𝐨𝐫ç𝐚

«E para que eu não ficasse vaidoso (…), foi colocado no meu corpo um espinho, um enviado de Satanás que me atormenta continuamente. Isso impede que eu me envaideça. 

Por três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Mas ele respondeu-me: «Basta que tenhas a minha graça. Pois a minha força manifesta-se melhor nas fraquezas.» 

Por isso, acho muito melhor orgulhar-me das minhas fraquezas, para que a força de Cristo desça sobre mim. 

Alegro-me, portanto, com as fraquezas (…). Pois quando me sinto fraco, então é que sou forte.»

2 Cor. 12:7-10

sexta-feira, 19 de março de 2021

Dia dos pais

Os nossos filhos são o nosso primeiro campo missionário e por isso precisam das nossas orações. Além disso, os filhos não nos são dados por Deus para os exibirmos, cumprirmos uma pressão cultural existente, dar significado ao casamento ou muito menos para resolvermos os problemas do nosso matrimónio. Os filhos são dados por Deus para que possamos, na medida que nos for possível, fazer discípulos do Senhor Jesus.

Não devemos esquecer que "temos de cumprir a nossa responsabilidade de pais da melhor maneira que pudermos, mas, no fim do dia, eles pertencem ao Senhor"(1).

Por isso, "a missão de criar filhos é o que existe de mais valioso na sua vida e isso demonstra-se todos os dias nas suas escolhas, palavras e ações"(2).

O que fazer se não se sente apto para esta missão? "Nenhum filho ou filha deseja ser criado por pais que se consideram aptos para a tarefa. Pais "capazes" tendem a ser orgulhosos e seguros de si. Por sentirem orgulho da sua capacidade, agem com precipitação e excesso de autoconfiança e, ao fazê-lo, demonstram carecer de paciência e compreensão. Pais “capazes” tendem a presumir que seus filhos também são capazes, e assim, não demonstram sensibilidade quando a fraqueza de seus filhos é exposta. Pais “capazes”, que se orgulham de cumprir a lei, estão inclinados a oferecer a seus filhos mais lei do que graça e são mais rápidos em julgar do que em compreender. Pais “capazes” costumam desejar que seus filhos sejam seus troféus, uma demonstração pública de sua capacidade. É difícil viver com pessoas que negam sua fraqueza, pois quem nega sua fraqueza não costuma ser paciente, amoroso e compreensivo com os que são fracos" (3).

Precisamos chegar ao pé de Deus e pedir ajuda em vez de fazer ameaças numa tentativa desesperada: - Por que usamos ameaças? Porque elas têm eficácia temporária. Pense bem: é adulto e os seus filhos têm metade do seu tamanho, por isso a sua presença é ameaçadora. Os seus olhos arregalados, o seu rosto vermelho, o dedo em riste e a voz potente são ameaçadoras. Com as suas reações, pode fazer com que o seu filho ou a sua filha tenha medo de irritá-lo. Contudo, preciso fazer uma distinção aqui. Ter um filho com experiência suficiente do que acontece quando se zanga e, por essa razão, tem receio de irritá-lo é bem diferente de ter um filho que se sente motivado por um desejo interior de fazer o que é certo e está ciente de que precisa da ajuda de Deus para fazê-lo" (4). 

Até porque "chegará um momento na vida de todos os filhos em que eles não se sentem mais ameaçados pelos seus pais. Se depende de ameaças para controlar os seus filhos, esse momento a que me refiro é, ao mesmo tempo, assustador e deprimente, pois a ferramenta que usou durante anos subitamente não funciona mais. (...) A ameaça sem a graça é uma ferramenta de controle externo que não conseguirá transformar a essência de seu filho ou da sua filha da forma como deveria" (5).

Olhemos, pois, para cada desafio uma oportunidade de mudança pois "a tarefa de criar filhos é uma missão de resgate, dia após dia, momento após momento. Significa que, como pais, precisamos lembrar diariamente de que somos chamados para resgatar os nossos filhos muitas e muitas vezes e que esses momentos não nos devem aborrecer quando esse resgate é necessário" (6).

Nada melhor do que começar esta missão com a confissão: "Quando os pais aprendem a confessar abertamente o seu pecado diante dos filhos, estão a transmitir a mensagem de que não se acham perfeitos e de que também têm as suas próprias lutas com o pecado, assim como eles. Isso vai dar esperança aos seus filhos, na medida que lhes mostrará que não há nada tão errado com eles que não esteja errado convosco também. Eles verão que, embora os pais pequem, são amados por Deus, o que os incentivará a participar dessa verdade" (7).

Lembre-se: os filhos vêm mostrar que afinal somos especialistas na arte de educar os filhos dos outros e que, por isso, precisamos clamar auxílio para as nossas vidas para podermos ajudar os nossos filhos a crescer pois "criar filhos resume-se nesta frase: pessoas inacabadas (nós, os pais) sendo usadas por Deus como agentes de transformação na vida de pessoas inacabadas. É verdade que, assim como aconteceu consigo, os seus filhos deixarão a sua casa ainda inacabados" (8).

 





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(1) Michael Horton, "Bom demais para ser verdade", p. 187

(2) Paul Tripp, "Desafio aos pais", p. 22

(3) Paul Tripp, "Desafio aos pais", p. 31

(4) Paul Tripp, "Desafio aos pais", p. 53

(5) Paul Tripp, "Desafio aos pais", p. 53-54

(6) Paul Tripp, "Desafio aos pais", p. 84

(7) Elyse Fitspatrick e Dennis Johnson, "Aconselhamento a partir da cruz"

(8) Paul Tripp, "Desafio aos pais", p. 74


quarta-feira, 17 de março de 2021

Esperar?

Quando estamos a passar por uma provação, normalmente não temos respostas da parte de Deus. Temos, sim, perguntas para fazer-nos pensar e orar. E devemos orar não para mostrar a Deus as nossas necessidades, como se Ele não soubesse, mas para submetermos a nossa vontade àquilo que Deus tem para as nossas vidas.

Há momentos de espera e de dor que se prolongam para o bem da nossa fé.
Apesar de podermos ser derrubados, nós já não podemos ser derrotados. Em Cristo somos mais do que vencedores.

Lembra-te: pode haver dor na nossa caminhada, mas haverá tranquilidade na nossa chegada!




terça-feira, 16 de março de 2021

Vives como condenado ou libertado?

Ao termos a nossa identidade bem definida em Cristo, somos filhos de Deus, não iremos temer as opiniões ou críticas que ouviremos como também não recearemos dizer alguma coisa a alguém com medo da sua reação/rejeição. 

O que fazer quando nos deparamos com a crítica?


Não ter medo 

Muitas vezes o nosso corpo e a nossa mente traem-nos ao gerar ansiedade indevida quando somos alvos de uma crítica perante algo que fizemos. Receamos ser rejeitados. Temos pavor que o nosso nome possa ficar manchado e não sermos reconhecidos.

Por isso, tememos ser confrontados com a opinião alheia porque "o temor da crítica torna-se uma ameaça maior do que a própria crítica em si"[1].

Nestes momentos, devemos lembrar-nos que os julgamentos das nossas ações já aconteceram e Cristo assumiu todas as nossas culpas. Está na hora de sermos livres, ao não passarmos mais no tribunal da opinião das pessoas, para vivermos como salvos e não mais como condenados à espera de libertação.


Avaliar a pertinência

Quando percebemos que a nossa vida não depende mais da aprovação ou rejeição das pessoas teremos mais capacidade para avaliarmos as críticas que nos são feitas. 

Como fazer? Joel Beeke ajuda-nos a avaliar estes momentos: "O ambiente físico, o momento e a situação que geraram a crítica podem ajudar-nos a determinar se ela é proveitosa. Como regra geral, não reaja à crítica por, pelo menos, 24 horas dando a si mesmo tempo para orar, filtrar os seus sentimentos, superar a mágoa e a consultar outros cuja sabedoria respeita. O tempo de oração é fundamental. A oração coloca a crítica no contexto apropriado. Traz clareza à mente e vigor à alma; diminui a ansiedade e reacende a paixão por aquilo que é correto e verdadeiro"[2].

Deus usa muitas vezes pessoas com maturidade cristã ou até pessoas mais cruas na forma como falam para corrigir algum ídolo existente na nossa vida. Estes momentos de avaliação são sempre importantes e não devemos desprezá-los pois há sempre alguma coisa a aprender. 

Por outro lado, “as pessoas orgulhosas são defensivas, nervosas, gostam de jogar a culpa nos outros e concentram-se em si mesmas. Acham sempre que o problema não está com elas, mas sim com o mundo".[3]

Não desprezes a crítica que te é feita mesmo podendo ser feita em modos menos corretos.


Aprender a responder

Depois de avaliarmos a crítica que nos é feita, sabendo que isso não deverá interferir com a nossa identidade, devemos então pensar em responder, se for necessário.

Isto é, "se as críticas dizem algo construtivo, absorva-as, confesse a sua falha, seja o primeiro na autocrítica, peça perdão com sinceridade, mude para melhor e continue o seu ministério. Se as críticas não oferecem nada construtivo, seja cortês e educado; e siga em frente. Nunca se torne irado nem auto-defensor, mas ofereça a outra face como Jesus aconselhou. Se a sua consciência é pura, uma explicação simples e clara pode ser proveitosa em certos casos embora o silêncio respeitoso seja frequentemente mais apropriado e eficaz (Marcos 14:61). A qualquer custo esforce para não justificar a si mesmo; os seus amigos não precisam disso, e os seus inimigos provavelmente não acreditarão na sua justificativa. Recuse-se a descer ao nível da crítica negativa; não retribua ao mal com o mal. Lute as batalhas de Deus, não as suas próprias, e descobrirá que Ele lutará as suas batalhas. Não lhe compete retribuir (Rom. 12:19)"[4].



 Viver uma vida normal

Se tivermos a nossa vida alicerçada em quem somos em Cristo, não dependeremos das críticas que nos fazem sendo as mesmas justas ou injustas. "A pessoa que se esquece de si mesma não se sente ferida, não fica mal quando criticada. A crítica não acaba com ela, não lhe tira o sono e não a incomoda. Por quê? Porque a pessoa que se sente arrasada com as críticas valoriza demais o que os outros pensam, valoriza demais a opinião alheia"[5].


Lembra-te: o Evangelho é o único que tem poder para garantir estabilidade na tua vida emocional. Se estiveres à espera que seja a tua autoestima, vais estar sempre à espera de injeções morais em tudo o que fazes e dependerás da validação dos outros para conseguires seguir em frente. 





[1] Joel Beeke, "Vencendo o mundo", p.  163

[2] Joel Beeke, "Vencendo o mundo", p. 154

 

[3] Francis e Lisa Chan, "Você e eu para sempre", p. 71

[4] Joel Beeke, "Vencendo o mundo", p. 156

 

[5] Tim Keller, "Ego transformado", p. 38 (Versão Pilgrim)

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

2 Pedro 2:20-22 ensina a perda da salvação?

Kistemaker dá-nos a resposta


20 Se escaparam da corrupção do mundo pelo conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo e estão novamente enredados no mundo e subjugados, encontram-se em pior situação do que estavam no princípio.

Quem é o sujeito desse versículo? Alguns escritores dizem: “Os falsos mestres”. Outros comentaristas afirmam: “Os recém-convertidos que foram desviados”.52 Os argumentos apresentados para defender qualquer uma das duas posições são convincentes. Por exemplo, o uso da conjunção portanto (que não aparece na NIV) como primeira palavra do versículo 20 forma uma ponte com o versículo anterior (v. 19). Tendo em vista que os dois textos formam uma unidade, tratam do mesmo assunto: os falsos mestres. Por outro lado, o verbo escapar aparece nos versículos 18 e 20. O sujeito desse verbo parece ser idêntico em ambos os versículos, mas o argumento a favor do uso de um determinado verbo deve ser contrabalançado com a observação de que ser vencido, que aparece nos versículos 19b e 20, refere-se aos falsos mestres. Por fim, à luz dos versículos anteriores, que têm os apóstatas como principal assunto, muitos comentaristas aplicam os três últimos versículos desse capítulo a esses mestres. Considerando as evidências convincentes que são apresentadas por ambas as partes, estou certo de que, em vista do fluir do capítulo como um todo, o sujeito consiste dos falsos mestres.

a. “Se escaparam da corrupção do mundo”. Apesar de parecer uma fase condicional, essa é a declaração de um fato. Falta o elemento de probabilidade, e a experiência daquilo que aconteceu no passado torna-se evidente. No grego, a forma verbal indica que, em certa ocasião, os falsos mestres deixaram as contaminações do mundo. “Haviam escapado das corrupções do mundo” (NEB; ver também JB). A diferença na forma verbal é evidente (no v. 18): “[Eles] mal haviam começado a escapar” (NEB). Essa variação do uso da forma verbal mostra que Pedro estava pensando nos novos convertidos que se encontravam no processo de romper com sua vida passada. Aqui no versículo 20, porém, está descrevendo os hereges que, em determinada ocasião, abriram mão de seu mundo e suas corrupções. “Restam poucas dúvidas de que os falsos mestres haviam sido cristãos ortodoxos”. No passado, essas pessoas eram membros da igreja e conheceram os ensinamentos da fé cristã.

b. “Pelo conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo”. Em algum momento, os falsos mestres conheceram Jesus Cristo como Senhor e Salvador? A resposta é sim. Quando, por exemplo, Jesus enviou seus discípulos dois a dois, ele mandou Judas e um outro discípulo. “Então, saindo eles, pregavam ao povo que se arrependesse: expeliam muitos demônios e curavam numerosos enfermos, ungindo-os com óleo” (Mc 6.12,13). Judas obviamente conhecia Jesus; ele pregou e realizou milagres em nome de Jesus. Ainda assim, Judas traiu seu Mestre.

Os apóstatas tinham conhecimento de Jesus Cristo, mas esse era desprovido da intimidade que caracteriza o relacionamento do verdadeiro crente com Cristo. Essas pessoas haviam confessado o nome de Cristo como seu Senhor e Salvador, mas com o tempo mostram que seu conhecimento era meramente o saber intelectual (comparar com Mt 13.20,21). Observe também que Pedro não usa os termos e crente nesse contexto. Os mestres nunca depositaram sua fé e confiança em Jesus Cristo. Por faltar-lhes um relacionamento pessoal com Jesus Cristo, eles se desviaram.

c. “Estão novamente enredados no mundo e subjugados”. O grego indica que, na realidade, esses mestres voltaram a entretecer-se na trama da corrupção do mundo. Trata-se de um fato consumado: mesmo tendo deixado o mundo momentaneamente, eles voltaram e se corromperam novamente com seu sórdido pecado. O resultado é que deixaram de ser livres; são escravos do pecado (v. 19). Qualquer resistência à corrupção do mundo está fora de questão, pois foram vencidos pelo pecado e servem-no como escravos.

d. “Encontram-se em pior situação do que estavam no princípio”. Eis aqui a declaração conclusiva no grego, que Pedro toma emprestado quase palavra por palavra dos ensinamentos de Jesus. Tratando da expulsão de demônios, que voltam com mais sete espíritos à pessoa anteriormente possuída, Jesus diz: “O último estado daquele homem torna-se pior do que o primeiro” (Mt 12.45; Lc 11.26; e comparar com Mt 27.64).

Pedro escreve de forma descritiva sobre o destino dos apóstatas. Suas palavras, porém, contêm uma advertência urgente aos crentes para que não sigam o caminho dos hereges, que leva à destruição irrevogável e eterna.


21 Teria sido melhor para eles que não tivessem conhecido o caminho da justiça, do que conhecê-lo e depois darem as costas para o mandamento sagrado que lhes foi transmitido.

a. Dever não cumprido. O que Pedro fala sobre os falsos mestres é o oposto daquilo que era esperado deles. Se sua fé tivesse sido autêntica e seu conhecimento verdadeiro, eles teriam se desenvolvido espiritualmente a fim de ensinar a outros o caminho da salvação. Se fossem verdadeiros mestres cristãos, teriam ensinado a outros o evangelho de Cristo. Porém, recusaram-se a seguir o “caminho da justiça” e negaram Jesus Cristo como Senhor soberano (v. 2; Jd 4). Suas vidas eram o contrário do que deveriam ser.

b. Apostasia. Pedro diz: “Teria sido melhor para eles que não tivessem conhecido o caminho da justiça”. Todavia, apesar de terem sido instruídos na fé cristã, desviaram-se de Deus e de sua Palavra. Por terem deliberadamente se voltado contra Deus, enfrentam julgamento eterno. As Escrituras advertem clara e repetidamente sobre o pecado da apostasia. Eis aqui duas passagens:

Aquele servo, porém, que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade, será punido com muitos açoites… A quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão [Lc 12.47,48].

Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados, pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários (Hb 10.26,27; ver também Hb 6.4–6; Pv 21.16).

Nesse ponto, devemos distinguir entre os pecados intencionais e não-intencionais. A pessoa que peca deliberadamente contra Deus expressa de forma aberta a rebeldia contra Deus que, nos tempos do Antigo Testamento, resultava em pena capital (Nm 15.30). O autor aos Hebreus, ao comentar o destino de um apóstata, diz: “Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (10.31).

c. Comparação. Se não conhecessem o caminho da justiça, os falsos mestres poderiam alegar ignorância. Mas agora não. Eles conhecem o “caminho da justiça” que João Batista já havia revelado ao povo de Israel em preparação para a vinda de Jesus (Mt 21.32). Além do mais, a expressão o Caminho era usada como sinônimo da fé cristã na primeira metade do século 1.

Os falsos mestres não apenas conheceram o Caminho, como também “deram as costas para o mandamento sagrado que lhes foi transmitido”. O que é esse “santo mandamento”? É o mesmo que a mensagem do evangelho de Cristo. Na passagem paralela, Judas chama esse mandamento de “ que uma vez por todas foi entregue aos santos” (v. 3; itálico nosso). Em outras palavras, o mandamento de Pedro e a fé (doutrina cristã) de Judas são a mesma coisa. Pedro escreve que esse mandamento, a saber, o evangelho, foi passado para eles. A expressão lhes foi transmitido é um termo técnico que se refere a receber o evangelho com o propósito de ensiná-lo e, assim, passá-lo adiante para os ouvintes (ver especialmente 1Co 11.2,23; 15.3; Jd 3). Pedro chama esse evangelho de tradição sagrada, o que significa que deve ser mantido intacto, obedecido e ensinado. Os falsos mestres, porém, quebraram a cadeia de receber e transmitir o evangelho de Cristo. Alteraram o seu conteúdo, rejeitaram seus ensinamentos e perverteram sua verdade (comparar com os vs. 1–3). Ao fazê-lo, cometeram o pecado imperdoável, ou seja, o pecado de blasfêmia contra o Espírito Santo (Mt 12.32; 1Jo 5.16).

Conclusão

22 Quanto a eles, os provérbios são verdadeiros: “um cão volta para o seu vômito” e “uma porca lavada volta a chafurdar-se na lama”.

Pedro conclui sua análise descritiva dos falsos profetas com dois provérbios. O primeiro é citado exatamente como aparece no Antigo Testamento. Provérbios 26.11 traz o seguinte texto:

Como o cão que torna ao seu vômito,

assim é o insensato que reitera a sua estultícia.

Os judeus tratavam os cães com desprezo, e não como melhor amigo do homem. De acordo com o Antigo e Novo Testamento, os judeus tratavam os cães como animais impuros. Um cão “vivia dos restos de todo tipo de coisa e, assim, era potencialmente o transmissor de muitas doenças”.58 Como animal que se alimenta de lixo, ele volta ao próprio vômito, cumprindo assim o provérbio. Pedro usa esse provérbio para comparar o hábito natural de um cachorro com os falsos mestres, que voltam a viver em pecado.

O segundo provérbio parece ser um ditado comum no mundo antigo, pois aparece em vários manuscritos. Seus dizeres são bastante óbvios. Um porco procura livrar-se dos insetos que o perturbam e do calor do sol rolando na lama. Apesar de a porca ser lavada, por natureza, ela volta à lama de onde veio. Ela rola na sujeira e grunhe de contentamento. Mais uma vez, a aplicação aos apóstatas é clara e descritiva. Assim como o porco gosta de rolar na imundície, os hereges sentem prazer na libertinagem e imoralidade.

Jesus cita cães e porcos na mesma frase quando diz: “Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas” (Mt 7.6). Ele instrui os discípulos a distinguirem entre as pessoas que são receptivas à mensagem do evangelho e aquelas que pisam sobre o que é sagrado. Tais pessoas são como cães e porcos.

Eis uma observação conclusiva: ao vomitar, o cão se alivia das impurezas internas; a porca lavada é limpa da lama externa. De qualquer modo, os dois animais voltam para a mesma sujeira.


 Simon J. Kistemaker, Epístolas de Pedro e Judas, trans. Susana Klassen, 1a edição., Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2006), 417–419.


 Simon J. Kistemaker, Epístolas de Pedro e Judas, trans. Susana Klassen, 1a edição., Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2006), 420–423.




quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Pacto das Igrejas Baptistas

 


Tendo sido levados pelo Espírito Santo a aceitar a Jesus Cristo como único e suficiente Salvador, e baptizados, sob profissão de fé, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, decidimo-nos, unânimes, como um corpo em Cristo, firmar, solene e alegremente, na presença de Deus e desta congregação, o seguinte Pacto:

Comprometemo-nos a, auxiliados pelo Espírito Santo, andar sempre unidos no amor cristão; trabalhar para que esta igreja cresça no conhecimento da Palavra, na santidade, no conforto mútuo e na espiritualidade; a manter os seus cultos, as suas doutrinas, as suas ordenanças e a sua disciplina; a contribuir liberalmente para o sustento do ministério, para as despesas da igreja, para o auxílio dos pobres e para a propagação do evangelho em todas as nações.

Comprometemo-nos, também, a manter uma devoção particular; a evitar e condenar todos os vícios; a educar religiosamente os nossos filhos; a procurar a salvação de todo o mundo, a começar pelos nossos parentes, amigos e conhecidos; a ser correctos nas nossas transacções, fiéis nos nossos compromissos, exemplares na nossa conduta e a ser diligentes nos trabalhos seculares; a evitar a detracção, a difamação e a ira, sempre e em tudo visando à expansão do reino do nosso Salvador.

Além disso, comprometemo-nos a ter cuidado uns dos outros; a lembrarmo-nos uns dos outros nas orações; a ajudar mutuamente nas enfermidades e necessidades; a cultivar relações francas e a delicadeza no trato; a estar prontos a perdoar as ofensas, buscando, quando possível, a paz com todos os homens. Finalmente, comprometemo-nos a, quando sairmos desta localidade para outra, a unirmo-nos a uma outra igreja da mesma fé e ordem, em que possamos observar os princípios da Palavra de Deus e o espírito deste pacto. O Senhor nos abençoe e nos proteja para que sejamos fiéis e sinceros até a morte.