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terça-feira, 26 de janeiro de 2021

2 Pedro 2:20-22 ensina a perda da salvação?

Kistemaker dá-nos a resposta


20 Se escaparam da corrupção do mundo pelo conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo e estão novamente enredados no mundo e subjugados, encontram-se em pior situação do que estavam no princípio.

Quem é o sujeito desse versículo? Alguns escritores dizem: “Os falsos mestres”. Outros comentaristas afirmam: “Os recém-convertidos que foram desviados”.52 Os argumentos apresentados para defender qualquer uma das duas posições são convincentes. Por exemplo, o uso da conjunção portanto (que não aparece na NIV) como primeira palavra do versículo 20 forma uma ponte com o versículo anterior (v. 19). Tendo em vista que os dois textos formam uma unidade, tratam do mesmo assunto: os falsos mestres. Por outro lado, o verbo escapar aparece nos versículos 18 e 20. O sujeito desse verbo parece ser idêntico em ambos os versículos, mas o argumento a favor do uso de um determinado verbo deve ser contrabalançado com a observação de que ser vencido, que aparece nos versículos 19b e 20, refere-se aos falsos mestres. Por fim, à luz dos versículos anteriores, que têm os apóstatas como principal assunto, muitos comentaristas aplicam os três últimos versículos desse capítulo a esses mestres. Considerando as evidências convincentes que são apresentadas por ambas as partes, estou certo de que, em vista do fluir do capítulo como um todo, o sujeito consiste dos falsos mestres.

a. “Se escaparam da corrupção do mundo”. Apesar de parecer uma fase condicional, essa é a declaração de um fato. Falta o elemento de probabilidade, e a experiência daquilo que aconteceu no passado torna-se evidente. No grego, a forma verbal indica que, em certa ocasião, os falsos mestres deixaram as contaminações do mundo. “Haviam escapado das corrupções do mundo” (NEB; ver também JB). A diferença na forma verbal é evidente (no v. 18): “[Eles] mal haviam começado a escapar” (NEB). Essa variação do uso da forma verbal mostra que Pedro estava pensando nos novos convertidos que se encontravam no processo de romper com sua vida passada. Aqui no versículo 20, porém, está descrevendo os hereges que, em determinada ocasião, abriram mão de seu mundo e suas corrupções. “Restam poucas dúvidas de que os falsos mestres haviam sido cristãos ortodoxos”. No passado, essas pessoas eram membros da igreja e conheceram os ensinamentos da fé cristã.

b. “Pelo conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo”. Em algum momento, os falsos mestres conheceram Jesus Cristo como Senhor e Salvador? A resposta é sim. Quando, por exemplo, Jesus enviou seus discípulos dois a dois, ele mandou Judas e um outro discípulo. “Então, saindo eles, pregavam ao povo que se arrependesse: expeliam muitos demônios e curavam numerosos enfermos, ungindo-os com óleo” (Mc 6.12,13). Judas obviamente conhecia Jesus; ele pregou e realizou milagres em nome de Jesus. Ainda assim, Judas traiu seu Mestre.

Os apóstatas tinham conhecimento de Jesus Cristo, mas esse era desprovido da intimidade que caracteriza o relacionamento do verdadeiro crente com Cristo. Essas pessoas haviam confessado o nome de Cristo como seu Senhor e Salvador, mas com o tempo mostram que seu conhecimento era meramente o saber intelectual (comparar com Mt 13.20,21). Observe também que Pedro não usa os termos e crente nesse contexto. Os mestres nunca depositaram sua fé e confiança em Jesus Cristo. Por faltar-lhes um relacionamento pessoal com Jesus Cristo, eles se desviaram.

c. “Estão novamente enredados no mundo e subjugados”. O grego indica que, na realidade, esses mestres voltaram a entretecer-se na trama da corrupção do mundo. Trata-se de um fato consumado: mesmo tendo deixado o mundo momentaneamente, eles voltaram e se corromperam novamente com seu sórdido pecado. O resultado é que deixaram de ser livres; são escravos do pecado (v. 19). Qualquer resistência à corrupção do mundo está fora de questão, pois foram vencidos pelo pecado e servem-no como escravos.

d. “Encontram-se em pior situação do que estavam no princípio”. Eis aqui a declaração conclusiva no grego, que Pedro toma emprestado quase palavra por palavra dos ensinamentos de Jesus. Tratando da expulsão de demônios, que voltam com mais sete espíritos à pessoa anteriormente possuída, Jesus diz: “O último estado daquele homem torna-se pior do que o primeiro” (Mt 12.45; Lc 11.26; e comparar com Mt 27.64).

Pedro escreve de forma descritiva sobre o destino dos apóstatas. Suas palavras, porém, contêm uma advertência urgente aos crentes para que não sigam o caminho dos hereges, que leva à destruição irrevogável e eterna.


21 Teria sido melhor para eles que não tivessem conhecido o caminho da justiça, do que conhecê-lo e depois darem as costas para o mandamento sagrado que lhes foi transmitido.

a. Dever não cumprido. O que Pedro fala sobre os falsos mestres é o oposto daquilo que era esperado deles. Se sua fé tivesse sido autêntica e seu conhecimento verdadeiro, eles teriam se desenvolvido espiritualmente a fim de ensinar a outros o caminho da salvação. Se fossem verdadeiros mestres cristãos, teriam ensinado a outros o evangelho de Cristo. Porém, recusaram-se a seguir o “caminho da justiça” e negaram Jesus Cristo como Senhor soberano (v. 2; Jd 4). Suas vidas eram o contrário do que deveriam ser.

b. Apostasia. Pedro diz: “Teria sido melhor para eles que não tivessem conhecido o caminho da justiça”. Todavia, apesar de terem sido instruídos na fé cristã, desviaram-se de Deus e de sua Palavra. Por terem deliberadamente se voltado contra Deus, enfrentam julgamento eterno. As Escrituras advertem clara e repetidamente sobre o pecado da apostasia. Eis aqui duas passagens:

Aquele servo, porém, que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade, será punido com muitos açoites… A quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão [Lc 12.47,48].

Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados, pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários (Hb 10.26,27; ver também Hb 6.4–6; Pv 21.16).

Nesse ponto, devemos distinguir entre os pecados intencionais e não-intencionais. A pessoa que peca deliberadamente contra Deus expressa de forma aberta a rebeldia contra Deus que, nos tempos do Antigo Testamento, resultava em pena capital (Nm 15.30). O autor aos Hebreus, ao comentar o destino de um apóstata, diz: “Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (10.31).

c. Comparação. Se não conhecessem o caminho da justiça, os falsos mestres poderiam alegar ignorância. Mas agora não. Eles conhecem o “caminho da justiça” que João Batista já havia revelado ao povo de Israel em preparação para a vinda de Jesus (Mt 21.32). Além do mais, a expressão o Caminho era usada como sinônimo da fé cristã na primeira metade do século 1.

Os falsos mestres não apenas conheceram o Caminho, como também “deram as costas para o mandamento sagrado que lhes foi transmitido”. O que é esse “santo mandamento”? É o mesmo que a mensagem do evangelho de Cristo. Na passagem paralela, Judas chama esse mandamento de “ que uma vez por todas foi entregue aos santos” (v. 3; itálico nosso). Em outras palavras, o mandamento de Pedro e a fé (doutrina cristã) de Judas são a mesma coisa. Pedro escreve que esse mandamento, a saber, o evangelho, foi passado para eles. A expressão lhes foi transmitido é um termo técnico que se refere a receber o evangelho com o propósito de ensiná-lo e, assim, passá-lo adiante para os ouvintes (ver especialmente 1Co 11.2,23; 15.3; Jd 3). Pedro chama esse evangelho de tradição sagrada, o que significa que deve ser mantido intacto, obedecido e ensinado. Os falsos mestres, porém, quebraram a cadeia de receber e transmitir o evangelho de Cristo. Alteraram o seu conteúdo, rejeitaram seus ensinamentos e perverteram sua verdade (comparar com os vs. 1–3). Ao fazê-lo, cometeram o pecado imperdoável, ou seja, o pecado de blasfêmia contra o Espírito Santo (Mt 12.32; 1Jo 5.16).

Conclusão

22 Quanto a eles, os provérbios são verdadeiros: “um cão volta para o seu vômito” e “uma porca lavada volta a chafurdar-se na lama”.

Pedro conclui sua análise descritiva dos falsos profetas com dois provérbios. O primeiro é citado exatamente como aparece no Antigo Testamento. Provérbios 26.11 traz o seguinte texto:

Como o cão que torna ao seu vômito,

assim é o insensato que reitera a sua estultícia.

Os judeus tratavam os cães com desprezo, e não como melhor amigo do homem. De acordo com o Antigo e Novo Testamento, os judeus tratavam os cães como animais impuros. Um cão “vivia dos restos de todo tipo de coisa e, assim, era potencialmente o transmissor de muitas doenças”.58 Como animal que se alimenta de lixo, ele volta ao próprio vômito, cumprindo assim o provérbio. Pedro usa esse provérbio para comparar o hábito natural de um cachorro com os falsos mestres, que voltam a viver em pecado.

O segundo provérbio parece ser um ditado comum no mundo antigo, pois aparece em vários manuscritos. Seus dizeres são bastante óbvios. Um porco procura livrar-se dos insetos que o perturbam e do calor do sol rolando na lama. Apesar de a porca ser lavada, por natureza, ela volta à lama de onde veio. Ela rola na sujeira e grunhe de contentamento. Mais uma vez, a aplicação aos apóstatas é clara e descritiva. Assim como o porco gosta de rolar na imundície, os hereges sentem prazer na libertinagem e imoralidade.

Jesus cita cães e porcos na mesma frase quando diz: “Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas” (Mt 7.6). Ele instrui os discípulos a distinguirem entre as pessoas que são receptivas à mensagem do evangelho e aquelas que pisam sobre o que é sagrado. Tais pessoas são como cães e porcos.

Eis uma observação conclusiva: ao vomitar, o cão se alivia das impurezas internas; a porca lavada é limpa da lama externa. De qualquer modo, os dois animais voltam para a mesma sujeira.


 Simon J. Kistemaker, Epístolas de Pedro e Judas, trans. Susana Klassen, 1a edição., Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2006), 417–419.


 Simon J. Kistemaker, Epístolas de Pedro e Judas, trans. Susana Klassen, 1a edição., Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2006), 420–423.




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